Pouco depois deu com os olhos numa caixinha de vidro debaixo da mesa: abriu-a, e encontrou dentro um bolo muito pequeno, com as palavras “COMA-ME” lindamente escritas com passas sobre ele. “Bem, vou comê-lo”, disse Alice; “se me fizer crescer, posso alcançar a chave; se me fizer diminuir, posso me esgueirar por baixo da porta; assim, de uma maneira ou de outra vou conseguir chegar ao jardim; para mim tanto faz!”
Comeu um pedacinho, e disse para si mesma, aflita, “Para cima ou para baixo? Para cima ou para baixo?”, com a mão sobre a cabeça para sentir em que direção estava indo, ficando muito surpresa ao verificar que continuava do mesmo tamanho: não há dúvida de que isso geralmente acontece quando se come bolo, mas Alice tinha se acostumado tanto a esperar só coisas esquisitas acontecerem que lhe parecia muito sem graça e maçante que a vida seguisse da maneira habitual.
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Em frente à casa havia uma mesa posta sob uma árvore, e a lebre de março e o chapeleiro estavam tomando chá.
"Tome um pouco de vinho”, disse a Lebre de Março num tom animador.
Alice correu os olhos pela mesa toda, mas ali não havia nada além de chá. “Não vejo nenhum vinho”, observou.
“Não há nenhum”, confirmou a Lebre de Março.
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O Chapeleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. “Que dia do mês é hoje?” disse, voltando-se para Alice. Tinha tirado seu relógio da algibeira e estava olhando para ele com apreensão, dando-lhe umas sacudidelas vez por outra e levando-o ao ouvido.
Alice pensou um pouco e disse: “Dia quatro.”
“Dois dias de atraso!” suspirou o Chapeleiro. “Eu lhe disse que manteiga não ia fazer bem para o maquinismo!” acrescentou, olhando furioso para a Lebre de Março.
“Era manteiga da melhor qualidade”, respondeu humildemente a Lebre de Março.
“Sim, mas deve ter entrado um pouco de farelo”, o Chapeleiro rosnou. “Você não devia ter usado a faca de pão.”
A Lebre de Março pegou o relógio e contemplou-o melancolicamente. Depois mergulhou-o na sua xícara de chá e fitou-o de novo. Mas não conseguiu encontrar nada melhor para dizer que seu primeiro comentário: “Era manteiga da melhor qualidade.”
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“Foi o chá mais idiota de que participei em toda a minha vida!”
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Por fim a Rainha Vermelha começou. “Perdeu a sopa e o peixe”, disse. “Sirvam o assado!” E os garçons puseram uma perna de carneiro diante de Alice, que a contemplou bastante aflita, pois nunca tivera de trinchar uma perna de carneiro antes.
“Parece um pouquinho embaraçada; permita que lhe apresente esta perna de carneiro”, disse a Rainha Vermelha. “Alice… Carneiro; Carneiro… Alice.” A perna de carneiro se levantou no prato e fez uma pequena mesura para Alice, que a retribuiu, sem saber se ficava com medo ou achava graça.