Em matéria de comida, cada pessoa tem a sua preferência. Eu sempre gostei dos chamados miúdos. Tem gente que não sabe o que são miúdos. O termo se refere a uma grande variedade de parte de animais que não são considerados cortes de primeira, ou seja, filé mignon não é miúdo. Aqui vai uma relação dos principais miúdos: coração, fígado, rins, pulmões, rabo, pés, miolo e língua. Para falar a verdade, o rabo não é miúdo.
Quando era criança, a minha mãe me obrigava a comer miolos dizendo que aquilo era bom para a minha saúde. Eu odiava e ainda odeio miolos. De todos os outros miúdos eu gostava. Pensando bem, só não gostava muito de rim e de fígado. O resto eu adorava. Mas o que eu mais gostava mesmo era de rabada. Não tinha coisa melhor do que uma boa rabada com agrião! Eu ficava horas comendo e chupando aquelas carninhas gordurosas que se escondem no meio dos ossos do rabo. O curioso é que nenhum restaurante tem rabada no cardápio. Nenhum. Nem pé-sujo tem rabada. A que eu comia era feita na minha casa, pela minha empregada, que é uma boa cozinheira, mas os tais miúdos ela não sabia fazer, ou fingia que não sabia, certa vez disse que língua de vaca era uma coisa nojenta.
Gosto e textura dos miúdos dependem, evidentemente, do tipo de órgão, da espécie do animal e de sua idade. Os miúdos de bezerro são os mais delicados de todos, seguidos dos de ovelha. Na minha cidade é muito difícil encontrar miúdos de ovelha. Já miúdos de porco são fáceis de encontrar. Tripas eu sempre preferi as de porco. Adorava tripas à moda do Porto. Esse prato leva tripas, chouriço, orelheira, toucinho, salpicão, carne de cabeça de porco, galinha, manteiga, cenoura, cebola, banha, louro, sal e pimenta. A quantidade de cada ingrediente eu não sei de cor, mas está tudo escrito no meu livro de receitas, que escondo da minha mulher.