Confeitaria com Píppi Meialonga — Astrid Lindgren (1945)

 Tom e Aninha não entenderam nem um pouco, mas acharam que talvez aquele fosse um bom jeito. Enquanto conversavam, os três tinham entrado na cozinha, e Píppi cantarolou:

Agora vamos fritar panquecas,

agora vamos fazer panquicas,

agora vamos assar pancocas!

Em seguida pegou três ovos e jogou para o alto. Um dos ovos caiu em sua cabeça e se quebrou, e a gema escorreu pelos olhos dela. Mas os outros dois ela conseguiu aparar direitinho com uma tigela, e se espatifaram.

— Sempre ouvi dizer que gema de ovo é bom para o cabelo — disse Píppi, enxugando os olhos. — Agora vocês vão ver. Daqui a pouco o meu vai começar a crescer tão depressa que vamos ouvir o barulho que ele faz quando cresce. Aliás, no Brasil, todo mundo anda o tempo todo com ovo no cabelo. E, só por isso, lá ninguém é careca. Quer dizer, houve um único caso: um sujeito era tão burro que, em vez de esfregar o ovo no cabelo, comeu. Por causa disso, acabou ficando completamente careca e, quando as outras pessoas viram aquilo, armou-se uma tal confusão que foi preciso chamar a polícia...

Enquanto falava, Píppi foi retirando com as pontas dos dedos a casca dos ovos que haviam caído na tigela e se quebrado. Depois, pegou uma escova de banho que estava pendurada na parede e começou a bater a massa da panqueca com tanta força que as paredes ficaram todas respingadas. No fim, derramou o que tinha sobrado numa frigideira sobre o fogão. Quando a panqueca ficou dourada de um lado, Píppi jogou-a para cima até quase o teto, fazendo-a virar no ar e cair na frigideira com o outro lado para baixo. E quando a panqueca ficou pronta, Píppi jogou-a diretamente da frigideira para um prato que estava em cima da mesa, do outro lado da cozinha.

— Comam! — gritou Píppi. — Se não esfria!

***

Os dois irmãos entraram no banheiro, lavaram o rosto e escovaram os dentes muito mais depressa do que de costume, depois se vestiram a toda a velocidade e desceram do andar de cima para o térreo escorregando pelo corrimão, indo aterrissar diretamente na mesa do café da manhã uma hora inteirinha antes do que a mãe deles esperava que aparecessem. Tom e Aninha se sentaram e pediram para tomar seus chocolates imediatamente.

— Quanta pressa! O que vocês vão fazer quando saírem da mesa? — quis saber a mãe.

— Vamos visitar a menina que se mudou para a casa ao lado da nossa — disse Tom.

— Acho que vamos passar o dia inteiro lá! — disse Aninha.

Justamente naquela manhã, Píppi resolvera fazer biscoito de canela. Tinha preparado uma quantidade enorme da receita, e estava estendendo a massa no chão da cozinha.

— Agora me diga.... — disse ela ao macaquinho. — De que adianta uma mesa quando a pessoa tem a intenção de assar pelo menos quinhentos biscoitos de canela?

E lá estava ela, trabalhando no assoalho, cortando os biscoitos em forma de coração no maior entusiasmo.

— Pare de andar na massa dos biscoitos, sr. Nilson — disse, com ar zangado, no exato instante em que tocaram a campainha.

Píppi foi correndo abrir a porta. Estava toda branca de farinha, até parecia um moleiro; quando ela sacudiu a mão de Tom e depois a de Aninha com grande entusiasmo, os três foram envolvidos por uma verdadeira nuvem de farinha.

— Que bom que vocês apareceram! — disse, sacudindo o avental e formando outra nuvem de farinha. Tom e Aninha se engasgaram com toda aquela farinha e começaram a tossir.

— Mas, afinal, o que você está fazendo? — perguntou Tom.

— Bom... Se eu dissesse que estou desentupindo a chaminé, você não ia acreditar, porque é muito esperto — disse Píppi. — A verdade é que estou fazendo biscoito. Mas já estou quase acabando. Se quiserem, sentem-se naquele caixote enquanto esperam!

Era impressionante! Píppi trabalhava muito depressa! Tom e Aninha ficaram sentados no caixote vendo a amiga recortar a massa dos biscoitos de canela, depois arrumar os biscoitos nas fôrmas, depois enfiar as fôrmas no forno. Acharam que era mais ou menos como estar no circo.

— Prontinho! — disse Píppi afinal, e fechou a porta do forno depois de pôr as últimas fôrmas lá dentro.

***

Uns dois metros acima do chão o carvalho se dividia em dois galhos grandes, e o ponto onde eles se separavam formava uma pequena plataforma. Em pouco tempo as três crianças estavam sentadas ali. Acima das cabeças delas, a copa do carvalho se abria como um enorme telhado verde.

— Bem que a gente podia fazer um lanche aqui! — disse Píppi. — Vou descer e preparar um agora mesmo.

Tom e Aninha bateram palmas e gritaram “Oba!”.

Pouco depois, Píppi voltou com o lanche. Na véspera ela assara bolinhos. Ficou parada embaixo do carvalho e começou a jogar as xícaras para cima, para Tom e Aninha apararem. Só que por duas vezes quem aparou foi o carvalho, e as xícaras se quebraram. Píppi foi correndo buscar outras. Depois foi a vez dos bolinhos, e durante algum tempo o espaço ficou cheio de bolinhos voadores. Pelo menos eles não quebravam. No fim, Píppi subiu com o bule de café em uma das mãos. Também levava uma garrafinha com creme no bolso e açúcar numa caixinha.

Tom e Aninha acharam que nunca tinham tomado café mais gostoso na vida. Eles não tinham permissão para tomar café todos os dias, só nos dias de festa. Mas, ali, estavam numa festa. Aninha derramou um pouco de café no vestido. Primeiro ficou quente e molhado, depois frio e molhado, mas não fazia mal, disse Aninha.

Quando eles acabaram o lanche, Píppi jogou as xícaras no gramado lá embaixo.

— Quero só ver se a porcelana moderna é forte — disse. Uma xícara e três pires aguentaram firmes, só o bico do bule quebrou.