Almoço com Rebecca — Daphne du Maurier (1938)

 Pobres fantasias da imaginação, doces e inofensivas! São as inimigas da amargura e da saudade, doces e inofensivas fantasias que suavizam de leve o nosso voluntário exílio.

São elas que me permitem gozar as tardes, e voltar refeita e sorridente, para repetir o pequeno ritual do nosso chá, cuja ordem nunca muda. Duas fatias de pão com manteiga para cada um, e chá da China. Que casal conservador devemos parecer, mantendo assim os mesmos hábitos que tínhamos na Inglaterra! Aqui, nesta pequena sacada branca e sem personalidade, batida há anos pelo sol, lembro-me do chá às quatro horas em Manderley, naquela mesa em frente ao fogo da lareira. A porta que se abria, invariavelmente à mesma hora, e o cerimonial sempre repetido: o chá, a bandeja de prata, a chaleira, a toalha cor de neve. E Jasper, a fingir indiferença à chegada dos bolos apetitosos. Verdadeiro festim, e no entanto comíamos tão pouco! Ainda posso ver aqueles "sonhos" deliciosos, as torradinhas quebradiças, os bolinhos macios. Sanduíches de todas as qualidades, de sabores misteriosos; e aquele pão especial... O bolo de anjo, que parecia derreter na boca, e o seu companheiro mais sólido, rico em passas e frutas secas. Petiscos suficientes para sustentar uma família durante uma semana inteira. Nunca vim a saber o destino que davam àquilo tudo, e esse desperdício às vezes me preocupava.

***

Toquei a campainha; Maud, uma das empregadas, apareceu.

— Esta sala não foi arrumada hoje — observei. Até as janelas estavam fechadas. E as flores murchas. Faça o favor de levá-las daqui.

Maud ficou nervosa e toda sem jeito.

— Desculpe, senhora, disse, e dirigiu-se à chaminé para tirar os vasos.

— Que isto não aconteça outra vez —, insisti.

— Não senhora, disse ela — e saiu do quarto levando as flores. Vi o menu do dia sobre a escrivaninha. Salmão frio e maionese, costeletas, galantine de galinha, suflê.

Reconheci os pratos da noite do baile. Ainda estávamos evidentemente aproveitando os restos. Este almoço frio era com certeza o mesmo da véspera, e que eu não comi. A criadagem estava levando tudo na calma, ao que parecia.

Passei o lápis pela lista e chamei Robert. — Diga a Mrs. Danvers que quero qualquer coisa quente. Se ainda há muitos restos frios, que não me apareçam mais.

— Muito bem, senhora.

Depois que Robert saiu, fui até o jardim de inverno buscar as tesouras, para colher uns botões no jardim das rosas.

***

Mrs. Danvers trazia na mão o menu. Parecia cansada e pálida, com grandes círculos roxos à volta dos olhos.

— Bom dia, Mrs. Danvers.

— Não compreendo, — começou ela, por que a senhora devolveu o menu e me mandou aquele recado. Quer explicar?

Olhei para ela, ainda com uma rosa na mão.

— Essas costeletas e o salmão foram servidos ontem, vi-os sobre o aparador. Prefiro hoje qualquer coisa quente. Se não comerem os frios na cozinha, é melhor jogá-los fora. Há tanto desperdício nesta casa que um pouco mais não fará diferença.

Ela me encarou, mas nada disse. Coloquei no vaso a rosa que tinha na mão.

Cena do filme adaptado por Alfred Hitchcock em 1940