Rabada ou dobradinha?
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Mesmo sem gostar, ele aprenderia a lidar com carne, ouvindo com atenção o açougueiro. O homem estava em idade de aposentar, queria deixar o açougue para alguém; ensinava com paciência os truques, a arte de aproveitar tudo da carcaça, limpando de sebo e gordura as carnes nobres para os ricos, moendo os retalhos e as carnes duras para os pobres, cortando bifes bem finos para as famílias grandes, oferecendo sempre rabo e buchada como se fossem pratos já prontos:
– Porque a senhora não leva hoje uma rabada? Ou uma dobradinha?
Se ninguém levasse, era ele quem acabava levando para casa a língua, fígado, miolo que ela fritava empanado e o menino comia com gosto; ela só não conseguia fazer nada com os rins.
Quem gosta de rim, disse o açougueiro, são esses ingleses de Londrina; e ele tinha vontade de pegar as malas de novo e atravessar o rio de balsa. Uma cidade nova, com gente nova chegando todo dia, decerto precisariam de mais um açougue. Mas a febre amarela continuava por lá, diziam, embora continuassem a chegar mais colonos. Ele chegava em casa à noite, tomava banho na bacia se esfregando muito com bucha e sabão, para tirar aquele cheiro de sangue, depois jantava sopa de miúdos ou dobradinha, tomava outro banho e ainda continuava com cheiro de carne. Dormiam ele com cheiro de carne, ela com cheiro de doce, às vezes batata, às vezes mamão ou goiaba, mas pelo menos já tinham cama. Continuavam com as roupas nas malas ou em pregos nas paredes, ele não queria comprar móveis, logo iriam para Londrina.