Um fogo potente ardia na lareira, tão forte como jamais aquela triste construção de pedra havia visto, nem na época de Scrooge nem na de Marley, ou em inverno algum do passado. Empilhados no chão, na forma de um trono, havia perus, gansos, caças, aves, pernis, grandes pedaços de carne, leitões, longas tripas de linguiça, pastelões de carne, pudins de ameixa, barris de ostras, castanhas assadas, maçãs vermelhas, laranjas suculentas, peras apetitosas, imensas tortas natalinas e vaporosas poncheiras que perfumavam a peça com um cheiro delicioso.
***
As mercearias ainda estavam abertas, e as quitandas expunham suas frutas com orgulho. Havia enormes cestas redondas, cheias de castanhas, parecendo velhos cavalheiros bonachões com seus coletes, que transbordavam para as ruas em sua obesa opulência. Havia cebolas da Espanha, coradas, bronzeadas e rechonchudas, resplandecendo em sua abundância como frades espanhóis, enquanto piscavam maliciosamente das prateleiras para as moças que passavam e olhavam disfarçadamente para os visgos dependurados. Havia peras e maçãs empilhadas em pirâmides altas e floridas e cachos de uvas que os quitandeiros penduravam em ganchos bem à vista para que pudessem encher gratuitamente de água a boca dos que passavam pela rua. Havia pilhas de avelãs amarronzadas e cobertas de musgo, com um cheiro que fazia lembrar antigas caminhadas pelos bosques, em que se afundava até os tornozelos nas folhas secas. Havia pêssegos, gordos e maduros, empilhados ao lado de limões e laranjas amarelados, os quais, assim suculentos e reunidos, pareciam suplicar humildemente para que fossem levados logo em grandes sacolas para casa e comidos após o jantar. Até mesmo os peixinhos dourados e prateados, colocados em um aquário, no meio de todas essas frutas especiais – embora membros de uma raça sem graça e de sangue-frio –, pareciam saber que algo de importante estava acontecendo. Todos arfavam de lá para cá, em seu pequeno mundo, em uma excitação lenta e desapaixonada.
***
E as mercearias, então! Oh, as mercearias! Embora já estivessem quase fechadas, com uma ou duas portas descidas, ainda assim, que magnífico espetáculo se podia ver entre as frestas! Não era somente porque as balanças descendo sobre os balcões faziam um ruído alegre, ou porque o barbante e o papel de embrulho se desenrolavam energicamente, ou porque as latas eram equilibradas umas sobre as outras como em um truque de malabarismo, ou porque os odores combinados do chá e do café eram tão agradáveis ao olfato, ou porque as passas eram tantas e de tão boa qualidade, as amêndoas tão incrivelmente brancas, as cascas de canela tão longas e retas, as outras especiarias tão deliciosas, as frutas cristalizadas tão bem cortadas e polvilhadas de açúcar, capazes de fazer com que até o mais distraído dos transeuntes ficasse desesperadamente faminto. E nem somente porque os figos eram úmidos e suculentos, as ameixas francesas coravam em sua modéstia em suas caixas bem decoradas, e nem porque tudo que estava em embalagens natalinas parecia ainda mais apetitoso.
***
Enquanto isso, o jovem Peter Cratchit mergulhava o garfo em uma panela de batatas, ao mesmo tempo em que espichava até a boca as pontas de um colarinho monstruoso (que o pai tinha emprestado para o filho e herdeiro, em homenagem à data), orgulhoso por estar tão elegantemente vestido e louco para exibir seu traje nos parques mais elegantes da cidade. Nesse instante, os dois menores, um garoto e uma menina, entraram aos gritos, anunciando que, ao passar pela porta da padaria, haviam sentido cheiro de frango assado, e estavam certos de que era o deles. Excitados, só de imaginar o cheiro do recheio de sálvia e cebolas, começaram a dançar em volta da mesa, ao mesmo tempo em que elogiavam a elegância de Peter (que não estava inflado de orgulho, embora seu colarinho estivesse a ponto de sufocá-lo), o qual assoprou o fogo até fazer com que as batatas, que antes estavam sossegadas, começassem a saltar loucamente dentro da panela, a fim de escaparem dali e serem logo descascadas.
***
Nunca houve um frango como aquele. Bob afirmou que jamais comera uma galinha tão bem assada. Sua maciez, aroma, tamanho e baixo preço provocaram enorme admiração. Junto com o molho de maçãs e as batatas, foi suficiente para satisfazer aquela família. Mais que isso – como disse com orgulho a senhora Cratchit, ao ver um pedacinho de osso sobre o prato –, eles nem conseguiram comer tudo! Estavam todos satisfeitos, principalmente os dois pequenos, lambuzados de sálvia e cebola até as sobrancelhas. Enquanto os pratos eram retirados pela jovem Belinda, a senhora Cratchit saiu da sala sozinha – mas ansiosa por ter testemunhas – para ir à cozinha pegar o pudim.
E se ele não estivesse bem cozido? E se quebrasse ao sair da fôrma? E se alguém tivesse saltado o muro e roubado a sobremesa enquanto estavam todos entretidos com o frango? Esta possibilidade deixou os dois pequenos Cratchit brancos, imaginando horrores!
Eis que surgiu uma grande nuvem de vapor! Sim, lá estava o delicioso pudim fora da fôrma, com um agradável cheiro de roupa lavada – era o cheiro do pano que o cobria. Uma mistura de confeitaria, restaurante e lavanderia juntos: era justamente este o cheiro do pudim! Em meio minuto a senhora Cratchit entrou – vermelha, com um sorriso de orgulho no rosto –, trazendo o pudim, que mais parecia uma bola de canhão toda salpicada, firme e sólida, flambado com um pouco de conhaque e enfeitado com um ramo de Natal.
Oh, que pudim maravilhoso! Bob Cratchit disse isso com toda a serenidade, garantindo que este tinha sido o maior sucesso da senhora Cratchit desde o dia do casamento. Ela afirmou que isso tirava um peso da sua consciência, porque estava em dúvida quanto à quantidade de farinha que tinha usado. Todos disseram alguma coisa sobre o pudim, menos que ele era pequeno demais para uma família tão grande. Na verdade, isso seria a maior ofensa, e qualquer um deles teria ficado vermelho só de pensar algo parecido.
Finalmente, a ceia terminou: a toalha foi retirada, a cinza da lareira, varrida, e um novo fogo foi aceso. Depois que a mistura da jarra foi provada e aprovada, as maçãs e laranjas foram dispostas em cima da mesa e uma porção de castanhas foi colocada no fogo para assar.