Comida peruanaMario Vargas Llosa____________________
Nunca pude explicar a ele de maneira convincente por que a menina má não viera a Lima comigo, porque eu também não sabia. Encarou com um ceticismo disfarçado a história de que ela não podia deixar o trabalho porque nessa época do ano, justamente, a empresa tinha uma demanda enorme de convenções, congressos, casamentos, banquetes e festas de toda espécie, o que não lhe permitia tirar umas semanas de férias. Eu também não acreditei, em Paris, quando ela usou esse pretexto para não vir comigo, e disse o que pensava. A menina má acabou então reconhecendo que não era verdade, na realidade não queria vir para Lima. "Por quê, posso saber?", e a tentava: "Você não tem saudade da comida peruana? Pois então, vamos passar duas semanas com todas as delícias em gastronomia nacional, o ceviche de corvina, o chupe de camarão, o arroz com pato, o lombinho refogado, a causa, o seco de cabelo e tudo o mais que der vontade." Não houve jeito, nem a sério nem de brincadeira, de atraí-la com as minhas iscas. Não iria ao Peru, nem agora nem nunca. Não pisaria lá nem por algumas horas. E quando quis cancelar a viagem para não deixá-la sozinha, ela insistiu que eu viajasse lembrando que os Gravoski estariam em Paris justamente nessa época e podia recorrer a eles se precisasse de ajuda.