Ernest Hemingway
Thomas Hudson lembrava como nessa manhã de Natal, o primeiro Natal de tempo de guerra, o proprietário do bar lhe perguntara: “O senhor não quer alguns camarões?”, e lhe trouxera um prato grande com uma pilha de camarões gigantes recém-cozidos, colocando-o sobre o balcão enquanto partia uma lima amarela e espalhava as fatias num pires. Os camarões eram imensos e rosados, e as barbas pendiam mais que trinta centímetros à beira do balcão. Havia pegado um, esticando os longos fios à sua extensão máxima e comentando que eram mais compridos que bigode de almirante japonês.
Thomas Hudson separou a cabeça do camarão-almirante japonês e depois partiu com os polegares a casca da barriga ao meio, extraindo o camarão, que estava tão fresco, provocando uma sensação macia entre os dentes, e tinha um tal sabor, cozido em água do mar com suco de lima nova e grãos inteiros de pimenta-preta, que lhe pareceu que nunca havia provado melhor, nem mesmo em Málaga, Tarragona ou Valência. Foi então que o gatinho se aproximou, correndo em cima do balcão, para se esfregar contra sua mão e implorar um camarão.
— São grandes demais pra você, bichinho — disse. Mas arrancou um naco com o polegar e o indicador e deu ao gatinho, que voltou correndo com ele ao balcão de charutos para comê-lo rápida e vorazmente.