Annia Ciezadlo
NOSSO QUARTO NO HAMRA tinha uma cozinha, então em nosso segundo dia em Bagdá saí para fazer compras. Acabei no souq al-ajanib, o mercado dos estrangeiros, onde aparentemente eu era a única estrangeira. O mercado se tornou um dos meus lugares preferidos em Bagdá e eu ia lá com frequência, principalmente quando precisava do consolo dos frutos. Alfaces romanas saíam como uma avalanche das caçambas de caminhonetes. Havia cestas tecidas à mão transbordando de figos roxo-escuros enrugados e macios como bebê. Berinjelas brilhavam como lágrimas obsidianas gigantes. Em lojas escuras, bananas pendiam do teto em cordas peludas como iscas de uma aranha gigante da selva. E os tomates: intensos, suculentos e vermelhos, empilhados em pirâmides sangrentas como as cabeças das vítimas de Hulagu. Na primeira visita comprei tomates e azeitonas pretas carnudas importadas da Turquia, e naquela noite, em vez de comer no restaurante do hotel, Mohamad e eu jantamos macarrão à puttanesca.
Puttanesca é meu molho de macarrão preferido. Como um bom amigo, é flexível e clemente; confiável, constante, mas também disposto a evoluir. E, como um bom amigo, está pronto para você em mais ou menos vinte minutos quando se precisa realmente dele. E também tem a questão do nome: “o macarrão das prostitutas”. Diz a lenda que puttanesca foi inventado por garotas trabalhadoras que precisavam de um molho que pudessem preparar e comer rapidamente entre um cliente e outro. Esses mitos sobre a origem dos pratos são quase sempre apócrifos, mas oferecem sabor ao prato. O nome dá ao puttanesca um gosto remanescente de sexo — isso, diz o nome, é um molho para mulheres “trabalhadoras”.