Filé de congro assado
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Na rua, vamos apontando os gordos que cruzam por nós. São muitos e nos divertimos em identificar os invasores. Na altura do prédio dos Correios, me convida para ir com ele ao Mercado Municipal. Seguimos rumo à rodoferroviária — uma região de distribuidoras de alimentos, bares e restaurantes imundos. Conversamos sobre hábitos alimentares, caminhadas e receitas.
Ele se lembra de Salinger, que seguia um regime muito rígido. Comia apenas ervilhas, abóbora e mais alguns legumes. E de vez em quando um salmão defumado, que comprava numa de suas visitas a Nova York.
— Tentei fazer salmão defumado, mas ficou muito salgado e tive que jogar fora.
— Você sempre cozinha?
— De vez em quando, mas só coisas simples.
— O que, por exemplo?
— Filé de congro assado. É comida de regime.
— E como se prepara?
— Lavo o filé com bastante água, para tirar o gosto forte. Unto uma fôrma de vidro com azeite de oliva, onde coloco os filés, já temperados com suco de limão, curry, manjericão, uma pitada de pimenta do reino e um pouquinho de sal. Depois de uns 30 minutos no forno, em fogo baixo, está pronto o meu jantar, que faço acompanhar por uma garrafinha de vinho. Chegamos ao prédio do mercado. Geraldo para na primeira loja, o Empório Anarco-Brasil, de uma descendente dos anarquistas italianos que criaram, em Palmeira, a Colônia Cecília. Percorremos as prateleiras vendo presuntos, chocolates importados, queijos e vinhos. Geraldo compra duas garrafas pequenas de Corvo.
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