Esperando o marido para jantar
Alberto Villas
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Os maridos eram exigentes, orgulhavam-se da Amélia que tinham em casa e costumavam dizer isso – e às vezes cobrar – na hora do jantar.
O almoço era mais simples, o trivial. Uma salada de tomate, um arroz fresco, feijão, uma verdura, bife. Às vezes acebolado, às vezes à milanesa. O jantar era mais complicado.
Por volta de quatro horas da tarde ele começava a ser preparado. O livro de receitas em cima da mesa, ela ia seguindo passo a passo como se fazia um rocambole de carne, um tomate recheado, um charutinho de folha de uva, um nhoque.
– Não tenho farinha!
Quando isso acontecia, ela mudava a receita, procurando sempre uma que não pedia noz-moscada ou gotinhas de baunilha porque noz-moscada ou gotinhas de baunilha nem mesmo Amélia costumava ter.
Por volta de seis horas o jantar estava praticamente pronto. Então ela colocava a mesa, uma mesa muito bem-posta. Toalha, pratos, copos, talheres, guardanapos de pano, temperos para salada, o vidro d’água, a pimenta malagueta. Cada coisa no devido lugar.
Tudo checado, a mulher tomava um banho, vestia um vestido de florzinha, colocava duas gotas de perfume no pescoço e ficava esperando o marido chegar. Uma hora todo dia. Ela olhava no relógio uma, duas, três vezes antes de ouvir o ronco do motor do carro entrando na garagem. Quando escutava esse barulho, corria para a cozinha para os retoques finais.
O marido chegava, abria a porta, um beijinho e a pergunta:
– O que temos para o jantar?
Entregava a ela uma bisnaga que vinha embrulhada num papel cinza, lavava as mãos e sentava-se sempre à cabeceira da mesa.
Os pratos iam sendo colocados na mesa um a um. Quando a mulher se sentava, ciente do dever cumprido, ele dizia:
– Me passa a salada, por favor!
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