Lara
Mariana Müller
__________________
Até as dez da manhã daquela quinta-feira, Antônia ia encontrar o pai em um clássico bufê livre porto-alegrense na Avenida Independência. Com vinte reais, que um dia foram doze, a criatura serve-se de mais de dez tipos de salada, em variações não muito elaboradas, arroz, feijão, lasanha, contrafilé na chapa e, se tiver sorte, sushi sem salmão. É a escolha da classe média que trabalha no eixo Centro-Bom Fim e dos estudantes de classe alta dos cursinhos para o vestibular de medicina. Um luxo para quem almoça no restaurante universitário todos os dias como Antônia.
Lá pelas tantas, o pai escreveu que seria melhor os dois comerem em um restaurante de shopping. Um tipo de estabelecimento que cobra mais pela sensação de segurança de um centro comercial fechado e pela decoração do ambiente que pela comida do cardápio. Em vez de ir caminhando, Antônia teve de sair mais cedo da aula e esperar até que o ônibus aparecesse. Quando faltavam dois minutos para o meio-dia, atravessou o estacionamento e chegou na porta de vidro fumê.
— Seja bem-vinda — disse o homem de gravata-borboleta ao empurrar a porta — mesa para um?
O desânimo evidenciava-se na forma desajeitada como agarrava o casaco e os dois cadernos em frente ao corpo — Para dois, na verdade — disse.
O garçom acompanhou-a até uma mesa redonda e ela escolheu a cadeira posicionada de frente para a entrada. Quando o pai aparecesse na porta, já estaria de olhos grudados em cada detalhe seu, roupa, celular, cabelo ou ruga.
_________________________