Fredrik Colting2009_____________________________________
Mas, quando entro no salão do café da manhã, vejo que não estou sozinho. Lá do outro lado, bem na ponta de uma mesa comprida, vejo um senhor de idade com um barrigão. Para dizer a verdade, ele tem um jeito bem engraçado. A barriga dele é tão grande que não consegue se acomodar totalmente embaixo da mesa. Ele precisa se esticar para frente e forçar o pescoço para alcançar a comida, que equilibra em um garfo na frente do rosto. Fico observando durante um tempinho e, na verdade, é um círculo vicioso. Quanto mais ele come, maior a barriga fica, e mais ele tem que se esforçar para chegar à comida. Não faço ideia do que isso pode significar, mas não posso deixar de pensar que é o cúmulo me colocar em um sonho em um lugar cheio de gente velha. Aliás, detesto esta expressão: “o cúmulo”.
Mas, agora que estou aqui, é melhor aproveitar o café da manhã, que é servido em um desfile de tigelas em um balcão comprido. Pego um prato, que começo a encher com ovos mexidos até mais ou menos metade. Continuo com uma camada de bacon e depois ajeito uma pilha de torradas do lado e mais ou menos um balde cheio de manteiga. Para completar tudo, sirvo um copo cheio de suco de laranja.
Fico meio sem jeito na hora de escolher o lugar para sentar; há tantas cadeiras vazias, e seria quase falta de educação não sentar com o homem de aparência engraçada, apesar de ser só um sonho. Então, vou até a mesa onde ele está sentado, quer dizer, só por ir. Além do mais, na verdade até que seria legal ter companhia para comer.
Quando ele vê que estou me aproximando, acena com a cabeça para mim, quase como se a gente se conhecesse. Aceno de volta, pouso a bandeja, mas não digo nada. Para falar a verdade, não gostei muito da minha voz, do jeito que ela parece pronta para falhar a qualquer segundo.
É a primeira vez que isso me acontece, de estar com toda esta porcaria de fome em um sonho e tudo o mais. Ataco a torrada e os ovos com bacon com uma determinação ferrenha e, à medida que vou enfiando carregamentos pesados na boca, meu corpo começa a se sentir melhor. Termino a pratada toda em um minuto ou algo assim e, durante esse tempo, nem reparo no mundo à minha volta. Nem mesmo no velho do outro lado da mesa, tamanha é a fome que tenho.
Quando termino, já não me sinto assim tão disposto. Devo ter devorado cinco ou seis ovos e o mesmo número de fatias de torrada, empurro o prato para o lado e reparo que o homem está olhando com curiosidade para mim.
Você com certeza está com fome hoje, C., ele diz. Acho que nunca vi você comer mais do que uma ou duas fatias de torrada. O que aconteceu? Correu uma maratona ontem à noite?
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"60 Anos Depois: Do Outro Lado do Campo de Centeio" (60 Years Later: Coming Through the Rye) é um romance escrito por Fredrik Colting, lançado em 2009. O livro é uma continuação imaginária de "O Apanhador no Campo de Centeio" (The Catcher in the Rye), o famoso romance de J.D. Salinger.
Na história, um homem mais velho, que afirma ser o Holden Caulfield original do livro de Salinger, foge de uma casa de repouso e embarca em uma jornada em Nova York. O personagem enfrenta dilemas existenciais e tenta reconciliar-se com o passado. O romance de Colting foi objeto de controvérsia legal, pois foi considerado pela justiça uma violação dos direitos autorais de Salinger, resultando em uma proibição da publicação nos Estados Unidos.