Café da manhã farto - Thomas Mann


A Montanha Mágica
Thomas Mann
1924
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A seguir, Hans Castorp sentou-se e notou com satisfação que o café da manhã era considerado ali como uma refeição importante.

Havia na mesa tigelas com geleias e com mel, pratos com arroz-doce e com mingau de aveia, travessas com ovos mexidos e com carne fria; a manteiga figurava em abundancia; alguém estava a levantar a redoma de vidro para cortar um pedaço de queijo suíço, úmido de gordura; e no centro da mesa via-se ainda uma fruteira com frutas, frescas e secas Uma criada vestida de preto e branco perguntou a Hans Castorp o que ele desejava beber: chocolate, café ou chá. Era baixinha como uma criança, e tinha um rosto oblongo, de velha. Como Hans Castorp constatou com espanto, era uma anã. Ele lançou um olhar ao primo, mas este se limitou a dar de ombros, franzindo as sobrancelhas, como para dizer: “E daí?” Assim, Hans Castorp, conformando-se com o fato estranho, pediu chá, com especial cortesia, por se tratar de uma anã. Pôs-se, então, a comer arroz-doce com canela, enquanto seus olhos vagavam por sobre os demais pratos, que ainda desejava provar, e estudavam os hóspedes distribuídos nas sete mesas — os colegas de Joachim, seus companheiros de destino, todos enfermos interiormente, e que ali, conversando, tomavam o café da manhã.

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"A Montanha Mágica" (Der Zauberberg) é um romance escrito pelo renomado autor alemão Thomas Mann. Publicado em 1924, a obra é considerada uma das maiores realizações da literatura do século XX. Este romance monumental é conhecido pela profundidade filosófica, pela complexidade narrativa e pela riqueza de detalhes.