O jardim do Éden
Ernest Hemingway
1961 (publicação póstuma)
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Estavam sempre esfomeados à hora do pequeno-almoço, que tomavam no café, e encomendavam os brioches, café com leite e ovos, escolhiam o tipo de compota que desejavam, e as recomendações que davam para a forma como queriam os ovos constituíam motivo de entusiasmo. Estavam sempre tão esfomeados ao pequeno-almoço que a rapariga sofria frequentemente de dores de cabeça até ser servido o café. Mas o café tirava-lhas. Tomava-o sem açúcar, e o jovem começava a aprender a lembrar-se disso.
Naquela manhã havia brioches e compota de framboesa, os ovos eram cozidos e tinham por cima um fio de manteiga que derretia quando os mexiam e temperavam nos copos com uma pitada de sal e pimenta moída. Eram ovos grandes e frescos, e os da rapariga menos cozidos que os do jovem. Disto lembrava-se ele bem, e era com satisfação que mergulhava a colher nos seus, deixando que a manteiga os humedecesse, e saboreava os grãos de pimenta grosseiramente moída e bebia o café fumegante e a chávena de café com leite rescendente a chicória.
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Ernest Hemingway (1899-1961) foi um dos escritores americanos mais influentes do século XX, conhecido por seu estilo de escrita conciso e direto, que revolucionou a literatura moderna. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1954, Hemingway é famoso por suas obras que exploram temas como a guerra, a masculinidade, a aventura e o amor.