Culinária japonesa - Diego Vecchio


Micróbios
Diego Vecchio
2006
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Desde sua mais tenra infância, Kathy Ishiyama foi de comer muito pouco.

Sua mãe, uma britânica que aprendera a culinária japonesa melhor do que uma cozinheira japonesa, empenhava-se em preparar para ela os manjares mais deliciosos. Toda manhã ia ao mercado para comprar frutas e verduras da estação, os peixes e carnes de melhor qualidade. Quando lhe preparava uma tigela fumegante de kakitama-jini (sopa de fios de ovos), Kathy fazia uma careta de desgosto: detestava a gema. O mesmo ocorria com os o-sobu (espaguete de trigo sarraceno, com molho de soja). Quando lhe serviam uma porção de sukiyaki de carne de boi ou de tonkatsu ou até de frango teriyaki, nem tocava no prato: tinha nojo de carne em geral. Sem falar do norimaki sushi (peixe cru enrolado em alga nori com arroz e uma pitada de mostarda): bastava a ideia de comer peixe cru para ter ânsia de vômito, bastava a ideia de provar um pouco de arroz aglutinado para passar mal. Para dizer a verdade, pouquíssimos alimentos, para não dizer nenhum, caíam na sua graça.

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Em 1768, Samuel Auguste Tissot, médico e confidente de Rousseau, autor de um célebre tratado sobre onamismo, publicou A saúde dos homens de letras, no qual tenta demonstrar, através de uma série de casos terríveis, que a literatura é como a masturbação: uma prática que faz mal à saúde. Certos livros seriam o efeito colateral da anemia, da asma, da dispepsia, da difteria, de cálculos renais, da sífilis. Micróbios é uma apresentação de nove casos clínicos raros, espalhados por diferentes países, em que os personagens sofrem de doenças causadas pela leitura e pela escrita. Humor, tragédia, alta inventividade e uma boa dose de nonsense – e de fluídos corporais – fazem deste um livro de destaque na paisagem da literatura contemporânea.