Quibe inovador - Annia Ciezadlo


Dias de mel: Uma história de amor, guerra e pratos deliciosos
Annia Ciezadlo
2012
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Mas nos dias em que estávamos muito cansados para cortar tomates ou o congestionamento ficava muito grande para chegar às feiras ou as padarias não tinham pão — ou todas as anteriores —, sempre tínhamos o restaurante do Sumer Land. Era outro mundo: a decoração laranja e marrom dos anos 1950; as paredes grossas de tijolo; as mesas rústicas de acampamento esculpidas em chapas grossas de madeira. Eu entrava na cozinha às vezes só para dar uma olhada, e o cozinheiro corpulento ria. Ele usava sempre um avental branco e limpo de chef. Às vezes eu o convencia a fazer um prato para mim com os vegetais que o restaurante geralmente só servia como acompanhamento: abobrinha, cenoura e couve-flor perfeitamente refogadas na manteiga. Chegou a um ponto em que, sempre que a equipe do restaurante me via entrando, eles cantavam:

Shajar, jazar, wa qarnabeet, abobrinha, cenoura e couve-flor?

Hussein, o jovem garçom alto e falante, tentava me provocar com novos pratos:

— Hoje temos camarão, direto de Baçorá — dizia, inclinando-se sobre nossa mesa, sussurrando conspiratoriamente. — E eles vieram em um caminhão refrigerado!

O Sumer Land servia um aperitivo brilhante, uma mistura do quibe moderno do Oriente Médio e ovo apimentado, com raízes que datavam do Iraque medieval: a cesta de ovos. Lembrava o bolo frito de carne e grãos chamado quibe qras no Levante. Com o formato de um ovo mas em variados tamanhos, o clássico quibe qras consistia em duas camadas: uma fina e crocante de trigo quebrado e carne, que misturados formavam a casca do “ovo”. Carne moída temperada, às vezes misturada com pinhões, era a gema. A maioria dos restaurantes parava por aí. Mas o chef do Sumer Land cortava dois quadrantes de um lado do quibe, deixando uma faixa no meio como a alça de uma cesta de Páscoa. Então ele tirava a parte de dentro e colocava metade de um ovo cozido cortado no comprimento. Em cima dessa mistura ele colocava molho russo grosso e laranja, para que lembrasse o recheio em um ovo apimentado. A cesta de ovos era como um ovo à escocesa orientalizado ou um quibe ocidentalizado, dependendo da origem de quem comesse; um trocadilho intercultural por excelência, uma brincadeira com a forma e a função do quibe e do ovo. Na verdade, era o eco culinário dos cozinheiros medievais iraquianos, que escondiam ovos cozidos em seus bolos de carne para surpreender e agradar os convidados. Ele enchia a barriga, deixava feliz e custava mais ou menos dois dólares.

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Receita de Cesta de Ovos à Moda Sumer Land

Ingredientes:

- 500g de trigo quebrado

- 500g de carne moída

- 4 ovos cozidos

- 1 xícara de pinhões (opcional)

- Sal e pimenta a gosto

- Óleo para fritar

Para o Molho Russo:

- 1 xícara de maionese

- Suco de 1 laranja

- Sal e pimenta a gosto

Instruções:

1. Em uma tigela, misture o trigo quebrado com a carne moída. Tempere com sal e pimenta a gosto. Adicione os pinhões, se desejar, para dar um toque especial à gema.

2. Modele a mistura em forma de ovo, criando duas camadas: uma fina e crocante de trigo quebrado e carne, formando a casca do "ovo".

3. Aqueça o óleo em uma frigideira e frite os ovos moldados até que fiquem dourados e crocantes. Retire do fogo e reserve.

4. Corte dois quadrantes de um lado do quibe, deixando uma faixa no meio como a alça de uma cesta de Páscoa.

5. Remova a parte de dentro do quibe e coloque metade de um ovo cozido cortado no comprimento dentro da cavidade.

6. Para o molho russo, misture a maionese com o suco de laranja. Adicione sal e pimenta a gosto.

7. Despeje o molho russo generosamente sobre a cesta de ovos, proporcionando um toque apimentado ao prato.

8. Sirva a Cesta de Ovos à Moda Sumer Land enquanto ainda está quente. Esta receita é uma fusão intercultural, combinando a tradição do quibe do Oriente Médio com a ideia de ovos escondidos dos cozinheiros medievais iraquianos.

9. Desfrute da deliciosa combinação de sabores e texturas que trazem uma experiência culinária única. Bom apetite!

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Em 2003, Annia Ciezadlo resolve passar a lua de mel em Bagdá. O destino nada óbvio para uma norte-americana se justifica pela decisão de seu marido Mohamad, que era jornalista nos Estados Unidos, de cobrir a invasão do Iraque e voltar ao Líbano, sua terra natal. Neste livro a autora fala sobre os anos na Bagdá ocupada pelas forças da Coalizão e na Beirute marcada pelas divisões sectárias. Fala, também, sobre o dia a dia das pessoas, sua relação com a família de Mohamad, as diferenças culturais entre Oriente e Ocidente e sobre a possibilidade de resolver os conflitos com uma mesa cuidadosamente preparada.