A melhor sopa da vida - Jack Kerouac


Os Vagabundos Iluminados
Jack Kerouac
1958
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Ao anoitecer, Japhy acendeu uma boa fogueira e começou a preparar o jantar. Estávamos muito cansados e felizes. Naquela noite, ele fez uma sopa de que nunca me esquecerei e foi mesmo a melhor sopa que tomei desde que era um jovem escritor célebre em Nova York e almoçava no Chambord ou na cozinha de Henri Cru. Não passava de alguns envelopes de sopa de ervilha desidratada jogadas dentro de uma panela de água com bacon frito, gordura e tudo o mais, bem mexidos até ferver. Tinha um gosto suculento e verdadeiro de ervilha, com aquele bacon defumado e a gordura de porco, era a refeição perfeita para se fazer na escuridão fria que ia se aglomerando em volta da fogueira crepitante. Além disso, quando examinou o terreno, ele encontrou alguns cogumelos selvagens, não do tipo normal, que parece um guarda-chuva, mas uns cogumelos do tamanho de pomelos, bem firmes e brancos, e os fatiou e fritou com gordura de bacon e os comemos separado, com arroz frito. Foi um jantar maravilhoso. Lavamos os utensílios no riacho gorgolejante. A fogueira afastava os mosquitos. A lua veio se infiltrando através dos galhos dos pinheiros. Desenrolamos nossos sacos de dormir sobre o capim da pradaria e fomos dormir cedo, mortos de cansaço.
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Jack Kerouac nasceu em Lowell, Massachusetts, em 1922; Largou a faculdade no segundo ano, depois de brigar com o técnico de futebol, e juntou-se à Marinha Mercante - dando início às jornadas infindáveis que se estenderiam pela maior parte de sua vida. Em "Os vagabundos iluminados" o protagonista, Ray Smith, é um aspirante a escritor de San Francisco que anseia por algo mais na vida. Esse algo mais será apresentado a ele por Japhy Rider - um jovem zen-budista adepto do montanhismo que vive com um mínimo de dinheiro, alheio à sociedade de consumo norte-americana.

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Título Original: The Dharma Bums

Tradução: Ana Ban