O primeiro macarrão a gente nunca esquece - Aimee Bender


Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo De Limão
Aimee Bender
2013
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Não estava a fim de ligar para Eddie. Assim, enquanto mamãe estava no apartamento de Joseph e papai se retirara para assistir ao primeiro episódio de uma minissérie sobre a Guerra Civil, fui para a cozinha. As janelas estavam bem abertas e a mesa, limpa. Havia uma cabeça de alho sobre a bancada, por isso eu a apertei com o dedo e separei os dentes. Com a lateral da mão, apertei a lâmina de uma faca para esmagá-los. Tirei a pele fina e esbranquiçada que cobria o miolo amarelo. Moído.

Minha mãe não vira a cama na sacada e, quando voltou, estava agitada demais para cozinhar, por isso eu disse que o faria. Já havia até começado. Enquanto papai conversava com ela em voz baixa na sala ao lado, pus sal numa panela de água para preparar o espaguete. Abri uma lata de tomates e os misturei ao alho picado e à cebola que fritavam no azeite de oliva. Era a primeira vez que eu me lembrava de preparar uma refeição inteira, do começo ao fim. Mantive-me atenta ao máximo na tarefa e, enquanto cortava a salsa em pedacinhos verdes úmidos, apenas tentava deixar que os ingredientes se conhecessem, do mesmo jeito que eu havia saboreado na sopa de cebola.

– O jantar está pronto – eu disse, depois de uma hora.

Meu pai entrou rapidamente, espreguiçando-se. Minha mãe, depois de ficar dando voltas com seus olhos cansados, pôs a mesa. Os ombros pesados. Pus um prato com queijo parmesão ralado no meio da mesa e servi a todos com um prato de espaguete com molho marinara. Papai passou as mãos nos meus cabelos como se eu fosse uma criancinha. Mamãe abriu uma garrafa de vinho. Eles pegaram os garfos, enfiando-os nos pratos e comendo em silêncio. Fiquei observando-os comendo por alguns minutos, até que minha mãe me perguntou se eu não iria comer com eles. Senti a estreiteza da passagem e peguei meu garfo, enrolando a massa nele. A primeira refeição completa feita por mim. Minha mão tremendo um pouco ao comê-la.

O molho estava bom, simples e espesso. Tristeza, raiva, tanques, buracos, esperança, culpa, fúria. Nostalgia, como flores apodrecendo. Uma fábrica fria.

Enxuguei os olhos com o guardanapo.

– Tudo vai ficar bem – disse papai, dando um tapinha na minha mão.

Durante a refeição, minha mãe levantou os olhos. Seus olhos estavam úmidos.

– Você preparou isso?

– Sim.

– Está bom, Rose – disse ela. – Perfeito. Onde você aprendeu a cozinhar?

– Em nenhum lugar. Não sei. Vendo você?

– Você tem praticado?

– Não.

Os dois serviram-se novamente. Comi apenas quatro colheres.

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Aimee Bender é uma escritora americana conhecida por suas obras que mesclam elementos do realismo mágico com questões emocionais e psicológicas. Nascida em 1969, Bender ganhou reconhecimento com seu primeiro livro, "The Girl with the Flammable Skirt" (A Garota com a Saia Inflamável), uma coletânea de contos que exploram temas surreais e fantásticos. Seu estilo distintivo combina o extraordinário com o cotidiano, envolvendo personagens que lidam com situações incomuns de maneiras emocionais e profundas. Bender também é autora de romances, como "An Invisible Sign of My Own" (Um Sinal Invisível Meu) e "The Particular Sadness of Lemon Cake" (A Tristeza Particular do Bolo de Limão), este último explorando temas de conexão emocional e habilidades sobrenaturais.