Passeio por um frigorífico - James M. Cain


A Mulher do Mágico
James M. Cain
1965
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O seu primeiro ato ao ultrapassar a pesada porta de aço foi inalar profunda e atentamente: "Tem coisas que só o nariz pega!".

Não farejou nada a não ser o cheiro sadio de boa carne, traseiro vermelho e branco e partes dianteiras dependuradas em fileiras, nos ganchos ajustados aos carrinhos, que por sua vez corriam num sistema de trilhos aéreo tão complexo, com suas extensões, ramais e desvios, que, comparado à via férrea lá fora, fazia-a parecer rudimentar. Após uma exalação solene, começou a sua ronda vespertina, despendendo mais ou menos um minuto em cada pequeno compartimento, de cada lado, onde o trabalho ia sendo tocado por uma equipe vestida de casacos acolchoados iguais ao dele. Primeiro, parou junto a dois cortadores fatiando Delmonico steaks, que manejavam suas facas curvas e pequenas balanças, podando a gordura para chegar ao peso exato de 220 gramas, depois empilhando-os com divisores de papel entre eles. Dirigiu-lhes um cumprimento de cabeça e seguiu para o próximo compartimento, onde peças prontas para assar eram cortadas, pesadas e marcadas, enfiando-se nelas alfinetes de metal, e em seguida para outro compartimento, onde carne de vitela, carneiro e porco estava sendo  cortada. Depois, cruzando o vão principal, atravessou uma porta que conduzia a outro compartimento, onde fazia menos frio. Lá, havia máquinas em ação, a maior fabricava salsichas para cachorros-quentes, e era tão grande e funcionava de modo tão exato quanto um computador IBM. Ela pegava a carne rosada e moída, com a qual alimentava um complexo que a enfiava numa película e a transformava nas salsichas. Depois, iam para uma correia de transmissão que as transportava a um mecanismo de empacotar. Após embrulhadas em sacos plásticos frouxos, a correia as conduzia para um aquecedor, onde o plástico sofria um processo de encolhimento com ajuste perfeito da embalagem, que iria cair num enorme cesto, quicando como pularia um cachorrinho de brinquedo. Finalmente, eram levados para um rotulador, que cobria um dos lados com uma gravura alegre de crianças num piquenique ao  ar livre, comendo cachorros-quentes da marca GRANT.

Por um breve momento, ele ficou parado junto ao miraculoso mecanismo e, então, passou adiante, vistoriando uma máquina  menor, atendida por várias garotas que lhe davam inteira atenção. A sua peça principal era um fatiador, no qual uma garota prensava carne, grandes pranchas de filé de peito, já cozido em salmoura e congelado.

Uma lâmina giratória tirava grandes fatias homogêneas, que caíam numa correia. Daí, outra garota reunia grupos de três fatias e colocava-os sobre quadrados de folhas de alumínio. Havia garotas para dobrar o laminado, ajustar os cantos e colocar os pacotes brilhantes, assim formados, em caixas, nas quais colavam etiquetas mostrando uma cena alegre de um restaurante com a legenda: ATENÇÃO, CHEFS! Este Prato Está Pronto Para Servir! NADA DE COZINHAR -NADA DE CORTAR -NADA DE TRABALHO Aqueça com o invólucro por um minuto. Remova o invólucro. MAIS NADA! ESTÁ PRONTO!

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James M. Cain foi um renomado escritor norte-americano, nascido em 1892, conhecido por suas contribuições significativas para o gênero noir na literatura. Sua escrita distinta era marcada por histórias de crime, traição e paixão intensa. Cain alcançou grande notoriedade com romances como "O Destino Bate à Sua Porta" ("The Postman Always Rings Twice") e "O Segredo da Porta Fechada" ("Double Indemnity"), ambos adaptados para o cinema e se tornando clássicos do film noir. Sua habilidade em explorar os aspectos sombrios da natureza humana, aliada a uma prosa direta e envolvente, solidificou seu lugar como um dos grandes mestres do suspense e do crime na literatura do século XX.

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Título original: The magician's wif

Tradução:  Luiz   Antonio  Aguiar