Feitura do pão
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Se dependesse do meu gosto, não haveria elogios ao pão do meu pai. Aquilo não me atraía em nada. Confesso, no entanto, que a rotina da fabricação do pão me trazia certo encanto. Lembro vivamente do ambiente de trabalho em casa, pelas madrugadas adentro. Na parede pegada ao quarto dos meus pais, ficava um tabuleiro de madeira, comprido e fundo como um gavetão, onde primeiro se misturava a farinha para produzir a massa do pão. Num canto da sala, junto às janelas e ao nosso quarto de crianças, preparava-se a primeira fase do pão num cilindro elétrico. Às vezes eu levantava a tempo de ver meu pai e o auxiliar recolhendo a massa comprida e jogando-a nas costas, antes de inserir outra vez entre os cilindros ruidosos. Em seguida, a massa voltava ao tabuleiro, para ser sovada e descansar. Aí permanecia, coberta com tampa de madeira, até crescer. Nesse meio-tempo, acendia-se o forno com lenha previamente trazida do porão. Só depois a massa era cortada e preparada em peças. Finalmente, os pães iam para o forno, que se situava junto à cozinha, na parte mais ao fundo da casa. Uma vez assados, eram tirados com longas pás de madeira. De manhã bem cedo, eu ajudava meu pai a arrear o cavalo e preparar o carrinho provido com os pães, para a entrega aos fregueses.
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