A fábula do rei e do padeiroMarina Colasanti _____________________________
Demitida a cozinheira, tudo voltou ao antigo rumo entre forno e fogões, enquanto os pálidos dedos do Rei retomavam seu caminho entre prata e cristal.
E assim teria continuado se algum tempo depois, voltando da caça, o Rei não tivesse esbarrado com o nariz em outro perfume alentador. Era pão, dessa vez, que um humilde padeiro acabava de tirar do forno.
– Quero esse pão e esse padeiro! – exclamou o Rei vendo-o à porta da padaria com as mãos ainda brancas de farinha.
Logo o padeiro foi introduzido na grande cozinha real e, rodeado pela expectativa geral, meteu as mãos na massa. Mas à farinha acrescentou noz-moscada; a água substituiu por leite, afofou com bastante manteiga, borrifou tudo com água de laranjeira e salpicou a superfície com nozes e sementes. Não haveria de fazer para o Rei o mesmo simples pão que fazia na sua padaria.
Como ele havia pretendido, o pão que chegou à real mesa não tinha o mesmo perfume nem o mesmo sabor daquele que o havia trazido até ali. Mas, como ele não havia previsto, o guardanapo voou e com ele seu recém-emprego.
Houve ainda um episódio envolvendo um ensopado de coelho e outro relacionado com uma fritada de cebolas, devidamente transformados em fricassê e suflê. Houve também alguns cozinheiros postos à porta. Depois, o Rei desistiu.