Mastigação com conversa
Nós tomávamos o café da manhã e almoçávamos na cozinha, numa mesa junto à grande janela e, às vezes, também jantávamos aí. Habitualmente, porém, o lugar do jantar era o terraço fechado, ao lado do regato. Dava mais trabalho porque Lily não trouxera ninguém de Nova York, a não ser Mimi, e não queria uma empregada local. Nós mesmos servíamos a mesa. Naquela noite, tivemos filé-mignon, batata assada, espinafre e suco de framboesa. Tudo, menos as batatas, fora retirado do congelador gigantesco, onde uma pessoa podia até andar, instalado na despensa. Os filés-mignons haviam chegado por via aérea de Chicago, acondicionados em gelo seco. Poder-se-ia pensar que, com tantos milhares de toneladas de carne em pé do outro lado do rio, de propriedade de Lily, houvesse meio melhor e mais fácil, mas isto fora experimentado e julgado insatisfatório.
À mesa, no terraço, Lily sentava-se sempre de frente para o regato, que ficava a uma dúzia de passos de distância, com Wade Worthy à esquerda e eu à direita, tendo Diana Kadany à sua frente. No momento em que Lily levantara o garfo, Diana Kadany interrompeu-a: — Eu tive um pensamento horrível hoje. Absolutamente horrendo!
Evidentemente essa era a deixa. Wade Worthy fez-lhe o obséquio de apanhá-la. Eu ainda não chegara a uma conclusão sobre Wade. O rosto de bochechas volumosas, o nariz grosso e o queixo quadrado encerravam uma coleção de sorrisos e estes eram difíceis de classificar. O sorriso cordial parecia cordial, mas sem modificá-lo, ele podia dizer algo ofensivo e, com um sorriso que parecia sarcástico, dizer algo gentil. O que endereçou à Diana nem era uma coisa nem outra, apenas delicado. Com o sorriso, disse:
— Você não sabe julgar seus próprios pensamentos. Ninguém sabe. Conte-nos e nós faremos uma votação.
— Se não fosse contar a vocês — retrucou Diana — nem teria tocado no assunto. — Levou um pedaço de carne à boca e começou a mastigar. Frequentemente fazia isso; poderia conseguir um papel numa peça que tivesse uma cena de refeição, e misturar mastigação com conversa requeria prática. Um ator pode ensaiar em qualquer ocasião e com qualquer pessoa e a maioria faz justamente isso.