Um círculo de legumes
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O homem me olhava, seus olhos cinzentos como o mar. Tinha um rosto comprido, anguloso, de expressão firme, em comparação com a da esposa, que tremulava como a chama de uma vela. Não usava barba nem bigode, e gostei, porque isso lhe dava uma aparência limpa. Tinha um capote negro nos ombros, camisa branca e uma linda gola de renda. O chapéu apertava os cabelos que eram ruivos da cor de tijolo lavado pela chuva.
— O que você estava fazendo, Griet? — perguntou ele. Fiquei espantada, mas sabia como disfarçar.
— Estava cortando legumes, senhor. Para a sopa.
Eu sempre colocava os legumes num círculo, cada um numa parte, como fatias de torta. Havia cinco fatias: repolho roxo, cebola, alho-poró, cenoura e nabo. Usei a ponta de uma faca para fazer cada fatia e coloquei uma rodela de cenoura no centro.
O homem tamborilou os dedos na mesa.
— Estão na ordem em que vão ser colocados na sopa? — perguntou, examinando o círculo.
— Não, senhor. — Fiquei constrangida. Não conseguia dizer por que tinha arrumado os legumes daquele jeito. Achei que deviam ficar assim, mas estava muito assustada para dizer isso para um cavalheiro.
— Vejo que separou os brancos — disse ele, indicando os nabos e cebolas. — Depois, o laranja e o roxo não estão juntos: por quê? — Pegou uma tira de repolho e uma rodela de cenoura e misturou-os como dados na mão.
Olhei para minha mãe, que concordou discretamente, num gesto de cabeça.
— As cores brigam quando ficam lado a lado, senhor.
Ele franziu o cenho, como se não esperasse aquela resposta.
— E você gasta muito tempo arrumando os legumes antes de fazer a sopa?
— Ah, não, senhor — respondi, confusa. Não queria que ele pensasse que eu era preguiçosa.
Com o canto do olho, vi um movimento. Minha irmã Agnes estava olhando da porta e balançou a cabeça por causa da minha resposta. Eu não costumava mentir. Olhei para baixo.
O homem virou um pouco a cabeça e Agnes sumiu na porta. Ele colocou a cenoura e o repolho nas tiras correspondentes. A tira de repolho invadiu o espaço das cebolas. Tive vontade de colocá-la no lugar. Eu não sabia, mas ele sabia que eu queria fazer isso. Estava me testando.
— Chega de conversa — decidiu a mulher. Não estava gostando da atenção que ele me dava, mas foi para mim que olhou, séria. — Amanhã, então? — Olhou para o homem antes de sair da cozinha, seguida por minha mãe. O homem deu mais uma olhada no que seria a sopa, despediu-se com um gesto de cabeça e acompanhou a mulher.
Quando minha mãe voltou, eu estava sentada, usando a máquina de legumes. Aguardei que ela falasse. Ela estava com os ombros encolhidos como se enfrentasse um frio de inverno, embora fosse verão e a cozinha estivesse quente.
— Amanhã você começa como criada deles. Se for bem, vai receber oito tostões por dia. Vai morar lá.
Apertei os lábios.
— Não me olhe assim, Griet. Temos de fazer isso, agora que seu pai perdeu o ofício.
— Onde eles moram?
— Na Oude Langendijck com a Molenpoort.
— Na Esquina dos Papistas? São católicos?
— Você pode vir para casa nos domingos. Eles concordaram. — Minha mãe juntou os nabos com um pouco de repolho e cebola e jogou tudo na panela com água, no fogo.
Acabaram-se as fatias de torta que eu havia arrumado com tanto cuidado.
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