A Berinjela - Eduardo Galeano (2004) Leitura & Conto



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Instruções para triunfar na profissão


Há mil anos, disse o sultão da Pérsia:

— Que maravilha.

Ele nunca havia provado uma berinjela, e agora comia uma cortada em rodelas temperadas com gengibre e ervas do Nilo.

Então o poeta da Corte exaltou a berinjela, que dá prazer à boca e no leito faz milagres, porque para as proezas do amor é mais poderosa que o pó de dente de tigre ou o chifre ralado de rinoceronte. 

Algumas rodelas depois, o sultão disse:

— Que porcaria.

E então o poeta da Corte amaldiçoou a berinjela enganosa, que castiga a digestão, enche a cabeça de pensamentos maus e empurra os homens virtuosos ao abismo do delírio e da loucura.

— Você acaba de levar a berinjela ao Paraíso, e agora a está jogando no inferno - comentou um insidioso. 

E o poeta, que era um profeta dos meios de comunicação de massa, pôs as coisas em seu devido lugar: 

— Eu sou um cortesão do sultão. Não sou cortesão da berinjela.

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Do livro Bocas del tiempo, de Eduardo Galeano (2004)

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Eduardo Galeano foi um escritor e jornalista uruguaio nascido em Montevidéu em 1940 e falecido em 2015. Ele é amplamente reconhecido como um dos mais importantes escritores latino-americanos do século XX. Galeano começou a carreira como jornalista em meados da década de 1960, trabalhando para vários jornais e revistas no Uruguai e na Argentina. Ele rapidamente se destacou como um escritor talentoso e comprometido com a luta contra a desigualdade social e a injustiça política. Em 1971, Galeano publicou sua obra mais famosa, "As Veias Abertas da América Latina", que se tornou um clássico da literatura latino-americana e uma referência importante para os movimentos sociais e políticos em todo o mundo.