A Vida é um Tango e Outras Histórias
Cristina Norton
2018
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O trajeto da nova casa ao escritório era muito mais comprido, mas dois meses depois de ter-se mudado já conhecia todas as vizinhas pelo nome. Por isso entrou no apartamento de Susana sem tocar à campainha, vendo que tinha a porta fora do trinco. Devia estar à espera do rapaz da mercearia que costumava levar-lhe as coisas mais pesadas, porque já não tinha forças para subir os três andares carregada. Encontrou-a em frente a um monte de legumes, com as mãos tingidas pelas cenouras e as unhas escuras da terra das hortaliças. Na panela que estava ao lume a água fervia aos borbotões, dentro cozia há um par de horas um bocado de carne e uns ossos. Marta aproximou-se da amiga e disse olá com um sorriso para não a assustar.
– Olá, Marta! Não te ouvi entrar. Senta-te. Queres um cafezinho?
– Não, obrigada, pelo café quero dizer, mas aceito a cadeira. O que é que está a fazer?
– Caldo.
– Para quê?
– Como para quê, olha a pergunta. Para a sopa de massa, para juntar às almôndegas, aos bifes. Não usas caldo?
– E… sim.
– A porcaria dos cubos.
– Para uma pessoa só não vale a pena ter tanto trabalho. A minha mãe fazia-o enquanto a mãe dela foi viva.
– Pois é, os bons costumes vão-se perdendo.
– Hoje ninguém tem tempo.
– Isso é verdade. Eu tenho, não é que goste de ficar horas na cozinha, mas o meu João não passa sem caldo verdadeiro, de vaca ou de galinha. Se lhe servisse uma sopa de lata ou de pacote dava-lhe uma coisa má, e como tem o coração fraco…
Marta ficou extasiada vendo Susana descascar cada legume e, depois de o lavar, cortava-o com uma faca pequena bem afiada até que a tábua de madeira se encheu de cubos de cores diferentes. De um lado estavam os alhos-franceses e as cebolas, do outro a abóbora e as cenouras, no meio o aipo, a salsa e outra variedade de verdes, e todo esse trabalho de artesão foi parar dentro da panela para fazer companhia à carne e aos ossos que entrechocavam uns contra os outros como se estivessem a ensaiar um batuque.
Como era sábado e Marta não tinha nada para fazer até às quatro da tarde, ficou para almoçar uma sopa de aletria e um rolo de carne regado com o líquido escuro que lhe fizeram lembrar os sabores da casa da avó.
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Conto "O caldo"
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Com base nos trechos fornecidos do conto "O caldo" de Cristina Norton, podemos criar uma receita fictícia inspirada na descrição da preparação do caldo feito por Susana. Aqui está a receita combinada:
Caldo de Legumes de Susana
Ingredientes:
- 1 pedaço de carne (qualquer carne de sua preferência, como carne bovina ou frango)
- Osso (pode ser de galinha, carne ou osso de tutano para dar sabor)
- Água
- Alhos-franceses
- Cebolas
- Abóbora
- Cenouras
- Aipo
- Salsa
- Outras variedades de verdes a gosto
Instruções:
1. Em uma panela grande, coloque a carne e o osso.
2. Encha a panela com água até cobrir a carne e os ossos.
3. Leve a panela ao fogo alto e deixe a água ferver aos borbotões.
4. Enquanto a água ferve, prepare os legumes:
- Descasque e corte os alhos-franceses e as cebolas.
- Descasque e corte a abóbora e as cenouras.
- Pique o aipo, a salsa e outras variedades de verdes a gosto.
5. Ao lado da panela fervendo, coloque cada tipo de legume em uma tábua de madeira.
6. Com uma faca afiada, corte os legumes em cubos pequenos.
7. Adicione os cubos de legumes à panela, criando camadas de alhos-franceses, cebolas, abóbora, cenouras, aipo, salsa e outros verdes.
8. Mexa delicadamente para garantir que os legumes e a carne estejam bem distribuídos.
9. Deixe o caldo cozinhando em fogo médio-baixo por pelo menos mais duas horas, permitindo que os sabores se misturem.
10. Sirva quente, apreciando a variedade de cores e sabores que se uniram como um trabalho de artesão na panela.
Essa receita fictícia foi inspirada na descrição da preparação do caldo no conto, adaptando os ingredientes e o processo para criar uma versão prática e deliciosa de caldo de legumes.