Cozinha Arqueológica
Eça de Queirós
1909
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Há dias, folheando os três pesados tomos de Ateneu¹, pensava eu quanto — através desta nobre, piedosa e filial curiosidade, que nos leva a esquadrinhar toda a civilização antiga, sobretudo a greco-latina, em cada uma das suas manifestações, desde a religião até à jardinagem — tem sido esquecida, ou menos atendida, uma das mais interessantes dessas manifestações, justamente uma das que melhor revelam o génio de uma raça: a cozinha!
Ateneu, que assim me fez lembrar esta injustiça da erudição arqueológica do nosso século, era um tremendo roedor de livros, que, sob Marco Aurélio e Sétimo Severo, se aplicou a vulgarizar toda a sorte de noções miúdas, e mesmo caturras, sobre boas letras, história, desporto, gramática, etiqueta, comestíveis, etc., numa vasta obra intitulada Deipnosophistae ou Doutores Jantando. Estes doutores que jantam vão ao mesmo tempo conversando, com gravidade romana e volubilidade grega, sobre toda a coisa sabível, desde as magnificências de Homero até às propriedades da abóbora. Na sua qualidade de doutores, todos eles são inesgotáveis citadores de textos — e nunca arriscam uma afirmação sem a especar com uma citação, ordinariamente de um poeta, por isso que os poetas possuíam entre os Antigos, que acreditavam sobretudo na intuição divinatória, aquela autoridade impecável que nós hoje, curvados somente ante a experimentação comprovada, atribuímos aos naturalistas. É mesmo por causa destas citações, de que a sua obra está toda incrustada e rebrilhante, que Ateneu se tornou precioso para os filólogos e para os eruditos. Ele salvou e conservou assim os nomes e fragmentos de setecentos poetas da Antiguidade, que pereceram todos nesse abominável incêndio das duas bibliotecas de Alexandria, a Mãe e a Filha, tão injustissimamente imputado ao pobre califa Omar. O incendiário, na realidade, foi o patriarca de Alexandria, Teófilo, horrendo destruidor de livros e de obras de arte, e tão comprometedor como campeão de Cristo que S. João Crisóstomo, quando fala nele, se vê forçado a velar a face e a chamar-lhe Teófilo Diabo!
Para mim, porém, que não me reclamo da erudição filológica, o que mais me prende nas páginas de Ateneu não são esses Arquéstratos, esses Dífilos, esses Baquílides, esses centenares de poetas que ele citou a tempo, antes que o fogo católico os devorasse — mas as noções e notícias da cozinha grega, romana e alexandrina, as três grandes escolas de cozinha da Antiguidade, que ele nos conservou com enternecido cuidado, prevendo talvez a chegada dos Bárbaros, e para que se não obliterasse entre os homens a arte superior de bem comer. O comer bem foi, com efeito, uma das grandes preocupações do homem antigo, tão grande talvez como servir o Estado — e assim têm podido assegurar alguns moralistas dispépticos que Roma pereceu pela barriga. Já a Grécia mesma, que era sóbria por temperamento e por educação, elevou a uma alta dignidade a arte da cozinha. Platão não duvidou de a equiparar à oratória: e num dos seus diálogos magníficos envolve nos mesmos louvores os que «guisam e apresentam bem as ideias e os alimentos». Tal era a cultura, o fino engenho, a influência social dos cozinheiros, que a Grécia, resumindo em símbolos compreensíveis e populares as glórias da sua civilização, celebrou ao lado dos seus sete sábios os seus sete cozinheiros. O maior deles era Aegis, de Rodes, o único mortal que tem sabido assar sublimemente um peixe. Outro era Nereu, de Quio, cuja sopa de congro foi cantada por poetas e recompensada em toda a Ática com coroas cívicas. Outro ainda, Aftonetes, de Atenas, levantou a tal perfeição a ciência dos molhos que, para o possuir como chefe de cozinha, os reis travaram entre si longas guerras... Para que citar outros? São apenas nomes, nenhum vestígio resta do seu génio adorável. De Sófocles temos as Tragédias, de Teócrito as Éclogas. Mas onde estão os molhos de Aftonetes?
Se era assim entre os Gregos, simples e metafísicos, que dizer dos Romanos, que Salústio (bastante livre, todavia, nos seus costumes) acusa já de escravos do ventre, dediti ventri? A comezaina foi entre eles um poderoso fator social, quase uma razão de Estado. Catão fez decidir a última guerra púnica mostrando, aos olhos gulosos do Senado, a beleza e o tamanho dos figos de Cartago.
À maneira que se alargavam as fronteiras da república, cresciam em Roma as escolas de cozinha — mais numerosas, já no tempo de Cláudio, do que as de filosofia e de gramática.
O ofício de cozinheiro tornou-se o mais rendoso e um dos mais privilegiados. Era quase um cargo público pelas honras que conferia — e chegou a existir uma corporação de cozinheiros do Estado. Sob Alexandre Severo, os governadores das províncias recebiam, ao partir, entre outras dotações de baixelas, de cavalos, de armas de luxo, um cozinheiro, um cozinheiro oficial, que deviam restituir ao Estado quando findava o período do seu governo.
Desses cozinheiros, os mais ilustres foram os Apícios, que formaram uma verdadeira dinastia, desde Sila até Trajano. O último Apício, o mais célebre, redigiu enfim o código supremo da cozinha, no seu livro monumental Da Arte Culinária. Pouco a pouco, a vida se identificava com a mesa: e a palavra convivium já nos dias de Cícero significava indiferentemente a sociabilidade moral, que liga os homens, e o banquete, que os reúne materialmente em torno do mesmo guisado.
De resto, a mesa constituiu sempre um dos fortes, senão o mais forte, alicerces das sociedades humanas. Já os Gregos diziam, na sua linguagem pitoresca e livre, que «a mesa é a alcoviteira da amizade!» Não só na vida íntima, mas na vida pública das nações, o jantar constitui a melhor e a mais solene cerimónia que os homens acharam para consagrar todos os seus grandes atos, imprimir-lhes um caráter de união e de comunhão social. Outrora não havia fundação de cidade, declaração de guerra, tratado de paz, instalação de magistratura, que não fosse acompanhada e corroborada por um festim. Ainda hoje se não cria um grémio ou um sindicato sem que os sócios jantem, cimentando os estatutos com champanhe e túbaras. As próprias relações do homem com a divindade estabeleceram-se sempre através da comida. O sacrifício da rês, sobre a ara, era uma espécie de merenda espiritual, em que o Deus, atraído pelo cheiro da carne assada, descia e se tornava acessível ao crente, partilhando com ele das vitualhas santas. O cristianismo, neste ponto, concordou com o paganismo — e a missa, pela consagração do pão e do vinho, é um verdadeiro banquete celebrado entre a terra e o céu.
Ora, por isso mesmo que a cozinha e a adega exercem uma tão larga e direta influência sobre o homem e as sociedades é que eu estranhava, há pouco, folheando Ateneu, que a erudição arqueológica não estudasse de um modo mais experimental e íntimo a cozinha dos Antigos para lhes aprofundar mais completamente a estrutura moral. Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és. O caráter de uma raça pode ser deduzido simplesmente do seu método de assar a carne. Um lombo de vaca preparado em Portugal, em França ou na Inglaterra faz compreender talvez melhor as diferenças intelectuais destes três povos do que o estudo das suas literaturas. O macarrão é por si só o mais instrutivo comentário da história das Duas Sicílias. E, sendo esta uma verdade admitida já desde Montesquieu, porque se tem descurado tão levianamente o estudo prático da culinária greco-latina?
Decerto, não são os documentos que faltam. A mesa e os seus prazeres foram um dos assuntos sobre que se exerceu, com mais afinco, o génio poético e mesmo filosófico dos Antigos. Horácio, filho delicado do Epicuro, não cessou de cantar honestamente a garrafa e o prato. Todo um livro dos Epigramas de Marcial é consagrado a celebrar o que se come e o que se bebe. Com o mesmo cálamo que traçava a Eneida, Virgílio compôs um poema sobre os doces de sobremesa. O mais severo dos homens, Catão, dedica páginas graves à couve, às suas variedades, às suas virtudes, à sua ação nos costumes. De uma simples ceia, Petrónio tirou todo um livro. E a História do Mundo, do sábio Plínio, é quase uma história universal dos comestíveis.
Também, por isso, não há detalhe exterior que nós não conheçamos, desde que se trate de um jantar romano — sobretudo nas casas luxuosas. Logo as salas nos são familiares, com os seus soalhos de mosaico ou de madeiras preciosas incrustadas de pedras faiscantes, ou de mármore numídico que se juncava de violetas e rosas; com os seus tetos de cristal, ou feitos de lâminas móveis de marfim, para que de entre elas pudessem chover sobre os convivas aromas ou flores...
Tudo isto é conhecido, assim como as mesas, que se mudavam a cada serviço, umas de cedro, outras de marfim, outras de limoeiro com relevos de ouro, sustentadas por pés de ónix. Uma dessas mesas magníficas custara a Cícero, simples advogado sem grande fortuna, perto de quarenta contos. Mas que é isso em comparação dos tapetes de Élio Vero, um elegante enfastiado e doente, que valia cada um cento e vinte contos? Do esplendor das pratas e das baixelas, e dos seus preços esmagadores, contam superabundantemente os coscuvilheiros e anedóticos historiadores da História Augusta.
Sobre a etiqueta dos banquetes temos também uma ciência segura; porque ela era tão essencial, de uma tão séria influência na vida pública, que Paulo Emílio, o vencedor de Perseu, considerava igualmente necessário ao homem de Estado, ao verdadeiro romano, o saber organizar uma batalha e dispor um festim. Por isso os tratados abundam, marcando rigorosamente as horas mais favoráveis para um jantar delicado, o número dos convivas (que nunca deve ser inferior ao das graças, nem superior ao das musas), as conversações mais conducentes a uma boa e ditosa digestão (evitando sempre tudo o que se refira a processos ou negócios), a duração dos serviços, a sequência dos vinhos, o momento dos coros e da música, a ordem das saúdes oficiais e íntimas, os lugares de honra (os lugares consulares) nos triclínios, o modo de usar as coroas de flores e a qualidade dos presentes que à sobremesa o anfitrião distribuía ao som das harpas.
E do jantar propriamente possuímos centenas de menus. Começava-se sempre simbolicamente pelos ovos: ab ovo. E desde logo aqui aparece, a meu ver, a lamentável deficiência da nossa erudição. Nós desconhecemos como se cozinhavam os ovos — ou pelo menos ignoramos o gosto, o sabor especial desses ovos iniciais. E, de facto, ignoramos o paladar de todos os pratos da alta cozinha clássica. Neste nosso fecundo período de reconstituições históricas, ainda não apareceu um cozinheiro bastante douto que acendesse os seus fomos e refizesse um jantar romano, segundo as receitas da Arte Culinária do grande Apício. Os arquitetos têm reconstruído, com um saber forte e sagaz, os templos, as casas de cidade e de campo, as ornamentações dos jardins, os próprios sistemas de esgotos. A pintura tem ressuscitado em telas tão minuciosas que cada pincelada resume um tratado, todos os aspetos do viver greco-latino: as ruas, os mercados, as lojas; uma primeira representação num teatro; a Via Ápia, à tarde, à hora do passeio; a leitura pública de um poeta no Foro; uma sesta luxuosa nas Termas... Armas, carruagens, trajes, mobílias, joias, tudo está modelado com paciente perícia. Toda a civilização material e sumptuária da Antiguidade a podemos ver, palpar, usar. Só não tratámos ainda de conhecer o sabor dos petiscos que comeram Lúculo ou o vasto Vitélio.
Há aqui uma lacuna crassa. E tanto maior quanto o sabor de um pitéu nos dá uma ideia mais completa do povo que o prefere do que a forma de uma lança ou de um jarro. O homem põe tanto do seu caráter e da sua individualidade nas invenções da cozinha, como nas da arte. O Pártenon, a Vénus de Milo e as Anacreônticas dão menos ideia da doçura, da graça, da delicadeza, da ligeireza dos Atenienses do que aquela sua sobremesa tão predileta e que consistia em maçãs cozidas desfeitas em mel, depois cozinhadas em folhas de rosa. E não basta afirmar doutoralmente que o imperador Maximino preferia o pato, que Alexandre Severo só se alimentava de lebre, que Augusto era um amador constante de pescadinhas, que Albino comia quatrocentas ostras, que Adriano tinha por prato favorito a empada de pavão, que Tibério se deleitava no pepino, que na mesa de Górdio II havia todo o ano maravilhosos melões e que Tácito amava ainda mais a salada do que a verdade. O interessante seria conhecer o preparo e o sabor destes pratos diversos, e reconstituir, com todos os seus condimentos, as pescadinhas de Augusto e o pepino de Tibério. Logo por esta paixão do pepino está Tibério explicado, se acreditarmos no ilustre Dífilo, que, mais que nenhum antigo, possuiu a ciência dos legumes, e que afiança que o pepino produz «bílis, sentimentos amargos e misantropia». Nesta apreciação do pepino está Tibério todo revelado. E o povo romano não se revela ele também, todo inteiro, naquele petisco chamado moretum, que era uma paixão nacional e sobre o qual Virgílio, como poeta nacional, rimou um poema?
O moretum era um guisado, uma moxinifada genial, em que entrava galinha, peixe, queijo, frutas, legumes e carne migada! E tudo isto se fundia, se unificava, fazia um petisco imortal. Quem não vê aqui manifestar-se o próprio génio de Roma, cujo esforço foi sempre criar a unidade na universalidade? O moretum é o mais profundo e eloquente símbolo da história política e social do império.
É pois urgente que, como um elemento de crítica, reconstituamos a cozinha antiga.
Nada mais fácil, tendo um avental, um forno, e a Arte Culinária de Apício.
Eu não possuo nem conheço este tratado venerável. Mas, através de ténues e modestas leituras, tenho recolhido algumas receitas, suficientes para aqueles espíritos curiosos que queiram investigar sem cansaço, sem extensos estudos, esta feição do génio antigo.
Marcial ou Aulo Gélio, não recordo qual, assegura que um bom jantar pode constar de um peixe, um bolo ou pudim e uma garrafa de vinho. Era este um jantar muito usual na Grécia, e depois, em Roma, para a gente azafamada ou sóbria, que queria comer rapidamente, sem despesa e sem pesadume. Equivale ao jantar moderno, em Paris ou Londres, engolido à pressa antes do teatro, mesmo no mundo do luxo, e que se compõe de uma sopa, de uma costeleta, de uma fruta e de meia garrafa de Bordéus. Pois eu sei como se cozinhava este jantar em Atenas ou Roma, aí pelos tempos de Augusto e ainda mesmo sob os Antoninos. O peixe, por exemplo, pode ser uma tainha. E aqui está como ela se prepara, ó estudiosos! Tomai essa tainha. Escamai e esvaziai. Preparai uma massa bem batida, com queijo (que hoje pode ser parmesão), azeite, gema de ovo, salsa e ervas fragrantes, e recheai com ela a vossa tainha. Untai-a então de azeite e salpicai-a de sal. Em seguida assai-a num lume forte. Logo depois de bem assada e alourada, humedecei-a com vinagre superfino. Servi — e louvai Neptuno, deus dos peixes.
O outro prato, pois que se trata de um festim ligeiro, pode ser um queque ou pudim feito pela receita do ilustre mestre Crisipo. Tomai duas ou três alfaces, bem repolhudas. Lavai e enxugai. Deitai vinho dentro de um largo almofariz e pisai, mortificai nele as folhas de alface. Passai por um ralo para que todo o líquido se escoe; e à alface assim machucada no vinho, juntai farinha de trigo, uma pouca de manteiga e pimenta. Pisai de novo, até obterdes uma massa firme. Dai a esta massa a forma de um bolo chato e redondo. Colocai-o na frigideira com azeite, e frigi em um lume vivo. Toda a Antiguidade considerou este bolo uma delícia, e chamava-se catillus ornatus. Não sei se gostareis. Era um prato dileto de Pompeu.
Poderemos depois findar, se quiserdes, pela famosa empada de rosas. Era um acepipe muito usado em todas as festas do culto de Vénus. Para o realizar, descei ao jardim, colhei as rosas mais largas e as mais cheirosas. Pisai-as no almofariz. Ajuntai miolos de galinha, de pombo e de perdiz, muito bem cozidos, e depois de os terdes desembaraçado das mais pequeninas fibras. Acrescentai ainda duas gemas de ovos, um fio de azeite puro, pimenta e vinho velho, de Malvasia. Depois de ter bem mexido tudo, até conseguir uma massa leve e fina, deitai numa caçarola nova de barro, e colocai sobre um fogo lento e contínuo. Logo que a superfície se aloure, servi. Por toda a sala se espalhará um aroma de rosa — e a vossa alma bendirá Apício Célio, criador desta maravilha.
E já que tivemos rosas em empada, porque não beberíamos o famoso vinho rosado? As receitas para o fazer diferem — mas a mais simples e rápida é a de Pausânias. Desfolhai um ramo de rosas, guardai-as durante um dia e deitai-as dentro de dois ou três litros de vinho velho (de Bordéus, hoje). Ao fim de três ou quatro semanas, juntai um arrátel de mel. E se pensais que o gosto e o saber de Heliogábalo podem ser seguidos com confiança, acrescentai ao vinho, horas antes de o beberdes, um punhado de pinhões esmagados, como fazia esse esplêndido e imperial estroina.
Aí está, pois, um muito fácil e acessível jantar greco-latino. Para o saborearem condignamente, e com proveito crítico, os convivas deverão estar reclinados num triclínio e coroados de flores. Com um sofá e uma coberta de seda, arma-se um triclínio suficientemente romano-. Não considero a toga ou o laticlávio indispensáveis. Um simples robe de chambre, de estofo macio e delgado, reproduz, com tolerável exatidão, as amplas comodidades da roupagem clássica. Sobre o que convém exercer vigilância é sobre os assuntos de conversação — e para isso reler de antemão as Simposíacas de Plutarco, que são um tratado superior do regime intelectual a seguir durante um banquete. O grande moralista debate aí e resolve quarenta e cinco questões consideráveis. A décima segunda é esta: «Quais são os gracejos permissíveis ou inaceitáveis durante um jantar?» A décima terceira rola sobre outro ponto importante: «Devem-se tratar à mesa matérias filosóficas?» A décima quarta versa sobre outra dúvida, ainda mais grave: «Convém falar, ao jantar, de política?»
É de alta prudência estudar estas páginas das Simposíacas antes de reconstituir o festim greco-romano. Mas bem absorvida que seja a sua doutrina, e se os pratos forem cozinhados com reverente exatidão histórica, eu penso que os estudiosos que celebrarem este festim realizarão um dos mais úteis, mais práticos e mais decisivos estudos que se têm tentado sobre as civilizações antigas.
Desenterrar do subsolo de Roma ou Delfos mais uma estátua, imprimir um papiro, achado entre velhos códices de um mosteiro do monte Atos e contendo a Constituição de Atenas, de Aristóteles — de que vale? E mais um mármore, é mais uma teoria. Mas verificar enfim o sabor do catillus ornatos e da empada de rosas; reconstituir o estado especial de espírito que produzia a cozinha greco-romana; ressuscitar por um momento a disposição, as ideias, as emoções de um antigo, jantando — eis aí um incomparável serviço feito ao estudo do passado. E não creio que possa, no atual momento das ciências arqueológicas, haver investigação mais digna de ocupar uma inteligência culta. Já vastamente explorámos a Antiguidade nas suas letras: é tempo de a esquadrinharmos nos seus petiscos.
Que os estudiosos, pois, fechem os livros — e preparem as caçarolas.
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¹ Ateneu nasceu em Náucratis, no delta do Nilo, no Egito. Deve ter nascido no reinado do imperador Marco Aurélio (r. 168–180) e viveu até algum momento depois de 228, data da morte do jurista Ulpiano, a quem Ateneu cita em sua obra. Seu trabalho sobrevivente se chama Dipnosofistas ou Banquete dos Eruditos. Pode ser considerado uma das primeiras coleções do que é chamado Ana, ou seja, uma imensa massa de anedotas, extratos de escritos de poetas, historiadores, dramaturgos, filósofos, oradores e médicos, fatos da história natural, críticas e discussões sobre quase todos os assuntos possíveis, especialmente gastronomia, sobre a qual cita a obra perdida de Arquéstrato.
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Chama a atenção as suas receitas, vou repetir aqui no formato de receita de cozinha elaborado pelo grande parceiro GPT.
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Receita de Tainha Assada com Massa de Queijo, Ervas e Vinagre
Ingredientes:
- 1 tainha fresca
- Queijo parmesão ralado (a gosto)
- Azeite de oliva extra virgem
- 1 gema de ovo
- Salsa fresca picada (a gosto)
- Ervas fragrantes (a gosto, como manjericão, alecrim, tomilho)
- Sal (a gosto)
- Vinagre superfino
- Óleo para untar
Instruções:
1. Pré-aqueça o forno a uma temperatura alta.
2. Lave e limpe cuidadosamente a tainha, removendo as escamas e esvaziando-a.
3. Em uma tigela, prepare uma massa bem batida misturando o queijo parmesão, azeite de oliva, gema de ovo, salsa picada e as ervas fragrantes de sua escolha.
4. Recheie a tainha com a massa preparada, garantindo que esteja bem distribuída por toda a cavidade.
5. Unte a tainha com azeite de oliva e salpique-a generosamente com sal.
6. Asse a tainha em forno pré-aquecido por aproximadamente 20-30 minutos, ou até que fique bem assada e dourada.
7. Após assar, regue a tainha com vinagre superfino para dar um toque de acidez.
8. Retire do forno e sirva imediatamente.
9. Ao degustar esta deliciosa tainha assada, não se esqueça de render homenagens a Neptuno, o deus dos peixes.
Aproveite esta receita única e saborosa de tainha assada, que certamente encantará até os paladares mais exigentes!
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Receita de Catillus Ornatus ao Estilo do Ilustre Mestre Crisipo
Ingredientes:
- 2 ou 3 alfaces bem repolhudas
- Vinho (quantidade suficiente)
- Farinha de trigo
- Manteiga
- Pimenta (a gosto)
- Azeite de oliva extra virgem
Instruções:
1. Lave e enxugue cuidadosamente as alfaces.
2. Em um almofariz largo, despeje vinho e amasse as folhas de alface até que estejam bem trituradas. Passe a mistura por um ralo para drenar o líquido.
3. Adicione à alface machucada no vinho a farinha de trigo, uma pequena quantidade de manteiga e pimenta a gosto. Amasse novamente até obter uma massa firme.
4. Modele a massa resultante em um bolo chato e redondo.
5. Em uma frigideira, aqueça azeite de oliva em fogo alto.
6. Coloque o bolo de massa na frigideira e frite até que ambos os lados estejam dourados.
7. Este prato, conhecido como Catillus Ornatus, era considerado uma delícia na Antiguidade e era apreciado por Pompeu.
8. Sirva o Catillus Ornatus quente, apreciando a combinação única de sabores e a tradição histórica que essa receita traz consigo.
Experimente esta receita e transporte-se para uma época em que os sabores simples eram apreciados como verdadeiras delícias gastronômicas.
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Receita de Empada de Rosas ao Estilo de Venus
Ingredientes:
- Rosas largas e cheirosas (quantidade suficiente)
- Miolos de galinha, pombo e perdiz (previamente cozidos)
- 2 gemas de ovos
- Azeite de oliva extra virgem
- Pimenta (a gosto)
- Vinho velho de Malvasia
- Massa folhada (opcional)
- Flores de rosa para decoração (opcional)
Instruções:
1. No jardim, escolha as rosas mais largas e perfumadas. Colha-as com cuidado.
2. Em um almofariz, pise as pétalas das rosas. Adicione os miolos de galinha, pombo e perdiz previamente cozidos, garantindo que estejam livres de fibras pequenas.
3. Acrescente as gemas de ovos, um fio de azeite puro, pimenta a gosto e vinho velho de Malvasia. Mexa bem até obter uma massa leve e fina.
4. Se desejar uma apresentação mais elaborada, forre uma forma ou caçarola nova de barro com massa folhada, deixando um pouco para a tampa.
5. Despeje a mistura de rosas e carne na caçarola.
6. Leve ao fogo lento e contínuo até que a superfície esteja dourada.
7. Se optou por usar massa folhada, cubra a empada com a parte reservada, selando bem as bordas.
8. Asse no forno conforme as instruções da massa folhada ou até que a empada esteja cozida e dourada.
9. Ao servir, decore com flores de rosa para realçar o aroma característico.
10. Desfrute desta empada de rosas e agradeça a Apício Célio, o criador desta maravilha culinária, enquanto o perfume das rosas se espalha pela sala.
Esta receita única certamente encantará seus convidados, proporcionando uma experiência gastronômica digna das festas dedicadas a Venus.
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Receita de Vinho Rosado à Moda de Pausânias
Ingredientes:
- 1 ramo de rosas frescas
- 2-3 litros de vinho velho (recomendado: vinho de Bordéus)
- 1 arrátel de mel (cerca de 340g)
- Um punhado de pinhões
Instruções:
1. Desfolhe um ramo de rosas frescas e reserve as pétalas.
2. Deixe as pétalas de rosa guardadas por um dia para intensificar seu aroma.
3. Coloque as pétalas de rosa dentro de dois ou três litros de vinho velho. Opte por um vinho de Bordéus para dar um toque especial à receita.
4. Após três ou quatro semanas, adicione um arrátel de mel ao vinho, misturando bem para garantir que o mel se dissolva completamente.
5. Se quiser seguir o toque de Heliogábalo, o imperador estroina, acrescente um punhado de pinhões esmagados ao vinho algumas horas antes de servir.
6. Deixe o vinho descansar para permitir que os sabores se misturem.
7. Antes de servir, coe o vinho para remover as pétalas de rosa e quaisquer resíduos.
8. Sirva o vinho rosado à temperatura adequada e desfrute dessa bebida única e aromática.
Essa receita simples e rápida, inspirada no método de Pausânias, oferece uma experiência de sabor única, aprimorada pelo toque especial das rosas e dos pinhões. Brinde à tradição e ao prazer de degustar um vinho rosado especial.